Letícia Genesini
08 de março de 2017

Seja no supermercado, no hortifruti ou até mesmo na feira, a cena é a mesmo: fileiras de maçãs lindas e polidas como se fossem ser usadas para uma filmagem de a Branca de Neve; cenouras grandes, retinhas e lisas, como o Pernalonga comia; limões com a cor homogênea e sempre brilhante que poderiam reencenar as cenas trágicas de O Poderoso Chefão. Piadas a parte, é como um casting de filme, na gôndola dos mercados encontramos expostas a comida que reflete a imagem mental que temos na cabeça, mas quem tem um pouquinho mais de intimidade com a terra e já colheu comida do pé, sabe que não é bem assim. O tamanhos, formas e até cores variam — também na comida, a natureza, cria variações. Mas porque não vemos isso na compra? É isso que o Fruta Imperfeita que mudar.

Criado por Roberto, Engenheiro Mecânico formado pela Unicamp e Pós Graduado em Gestão de Negócios com ênfase em sustentabilidade, e  Nathalia, Engenheira de Alimentos formada pela Unicamp e Pós Graduada em Gestão de Negócios com Ênfase em Marketing, o Fruta Imperfeita comercializa frutas e legumes que seriam descartados por não estarem fora do padrão.

“Queríamos criar algo que fossem relevante para todos eles, e não só um meio de gerar dinheiro. Inicialmente queríamos criar um negócio voltado para a alimentação saudável e que gerasse valor aos produtores rurais. Conhecendo melhor a operação de diversos produtores verificamos que os principais problemas estavam relacionados ao escoamento da produção excedente (durante as safras) e aos produtos fora de padrão! Vimos o quanto era desperdiçado devido ao padrão puramente estético imposto pelo varejo”, contaram em entrevista ao site Saudável com Equilíbrio.

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Essas frutas não chegam até nós porque os supermercados sabem que entre uma maçã cinematográfica e uma igualmente suculenta, mas com cores menos vivas, escolheremos a primeira. Eles sabem que a gente espera umacerta forma, cor e até um certo tamanho para cada coisa — muito pequeno é ruim, mas grande demais também. E já que esses produtos fora da curva iriam sobrar nas prateleiras de qualquer modo, os mercados já não os compram: há um teste de padronificação, e aquilo que não passa, volta pro produtor. O produtor sabendo disso hoje nem leva esses vegetais para venda, e aqueles que tem recursos já trabalham isso na produção, para que tudo nasça o mais perfeito possível.

Ambos casos gera um desperdício. Hoje 1/3 do alimento produzido vira lixo, e no Brasil esse número é muito pior chegando a 64%, e as ‘imperfeições’ entram nessa conta. “Cerca de 10% de tudo que é colhido, tem alguma imperfeição. Quando ocorre algum problema climático, por exemplo, uma chuva inesperada ou um frio excessivo, essa imperfeição pode atingir uma produção inteira”, lembram. É preciso lembrar que desperdiçar um alimento não vem só com a culpa que sua mãe colocou de que jogar comida fora é pecado, mas que junto vai desperdiçado os recursos que geraram aquele alimento. “Há o consumo do solo e da água, quando se joga fora um maçã existe todo um ambiente que foi ‘desgastado’ ”, continuam.

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Então seria melhor comprar dos produtores que tem os recursos para conduzir a colheita de forma mais padronizada. Bem, não é bem assim. Estes tais recursos variam desde o uso de agrotóxicos, até técnicas orgânicas, mas que aumentam o consumo de água e desgastam mais o solo (lembrando nosso texto sobre a visita ao Farm To Table e a diferença dentro de cultivos orgânicos).

Neste cenário, quem não busca controlar a estética da produção é apenas agroativistas e pequenos produtores que não tem condição financeira para tal. É destes último que vem grande parte dos insumos do Fruta Imperfeita, daqueles que muitas vezes a renda obtida é para a subsistência da família, representando um apoio ao pequeno agricultor.

Outros países também estão acordando para esta questão. Em 2014, a rede francesa de supermercados Intermarché criou a campanha “Inglorious Fruits and Vegetables” para estimular o consumo desses alimentos.

Algo inteligente, pois reduzindo o desperdício, além de uma atitude ética é uma atitude econômica — diminui a margem de perdas, aumenta os lucros. Por isso, eu gosto de lembrar, o problema não começa com os produtores e pontos de venda que jogam comida fora, para eles seria muito mais rentável vender e produzir todos os tipos de insumos disponíveis. Porém, porque fazê-lo se eles iriam sobrar na gôndola — o problema começa com nós. É preciso reeducar nossos hábitos de consumo e nossos padrões de estética, inclusive dos alimentos. É o conceito de negócio social ganha-ganha-ganha.

O Fruta Imperfeita trabalha com cestas Mista, Frutas ou Legumes e de vários tamanhos. Você pode comprar avulso ou fazer uma assinatura. Claro que a variedades de frutas e legumes mudam a cada semana, já que não dá pra prever o que vai nascer imperfeito. Então não você não escolhe o que quer (e este não é muito o ponto em um artigo que está falando de reeducação de consumo, né gente??), mas caso tenha alguma restrição ou alergia pode informar os itens que não deseja receber e ele será substituído outro produto.

Os pedidos são feitos online, por email (contato@frutaimperfeita.com.br), site e facebook.

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