Mata Atlântica: ingredientes locais para novas escolhas alimentares
Há atualmente mais de 200 produtores familiares no Cinturão Verde de São Paulo que cultivam espécies de árvores nativas com enorme potencial para a gastronomia e diferentes usos pelo consumidor. São espécies frutíferas como o Cambuci, a Uvaia, o Araçá, a Juçara, a Grumixama… nomes que há décadas parecem ter sido esquecidos pelos moradores, conforme a Mata Atlântica foi perdendo espaço para a urbanização e o modelo agrícola de monoculturas extensivas. Antigos pomares, fundos de quintais, sítios em vales e encostas da Serra do Mar sempre abrigaram essas árvores que são originais do bioma Mata Atlântica e tem como principal diferencial estarem “no nosso quintal”.
As espécies nativas da Mata Atlântica são nossas vizinhas, conforme ocorrem na região onde vivemos, são adaptadas ao clima do Sudeste e naturais do bioma onde mora quase 80% da população brasileira. Além disso, seu plantio, permite a criação de um modelo de recuperação da floresta nativa, ou seja, induz a volta da natureza local, atraindo diferentes espécies da biodiversidade, como aves, insetos polinizadores e novas árvores. Cada vez mais, essas nativas vêm sendo cultivadas por pequenos agricultores na região do Cinturão Verde de São Paulo, com benefícios para a geração de renda dessas famílias, numa economia mais próspera que a das culturas extensivas, e importantes efeitos positivos na conservação do meio ambiente local.
Por isso, uma iniciativa da ONG Instituto Auá, chamada Empório Mata Atlântica, vem promovendo a aproximação entre esses produtores locais de nativas e o mercado final, baseado nos princípios do comércio justo que reverte em renda para os agricultores e em benefícios para a alimentação e o modo de vida dos consumidores. A missão final é criar mercados sustentáveis para produtos da mata visando impedir o desmatamento do que restou e induzir a recuperação da floresta, por meio da valorização dos produtos que ela oferece. Hoje, as frutas como o Cambuci congelado ou os derivados comercializados pelo Empório Mata Atlântica são todos produzidos de forma agroecológica, sem agrotóxicos e em estreita relação com o ambiente e as pessoas.
Além disso, há uma rica cultura humana associada às frutas nativas, com saberes tradicionais sobre as melhores formas de cultivo, receitas antigas e forte vínculo com a identidade cultural paulista – frutos como o Cambuci já eram usados há mais de 400 anos por índios e, depois, por tropeiros. Esta, em particular, é uma espécie versátil, de paladar exclusivo e importância no desenvolvimento de uma culinária brasileira, que se apoia na valorização dos produtos de nossa terra e em formas de produção mais sustentáveis.
Hoje, quando chega à mesa dos estabelecimentos ou das casas das pessoas, o Cambuci reverte em renda para os produtores e apoia a recuperação da Mata Atlântica, e de outro lado promove uma nova cultura alimentar, saudável e comprometida com a qualidade de vida de quem consome. Nesse sentido, insere-se na visão de saúde como aquela relacionada a melhores escolhas e a uma vida mais orgânica, que inclui a preocupação com a matéria-prima dos alimentos e hábitos cotidianos que permitam o fortalecimento do organismo. Isso vai além da simples visão da saúde como ausência de doenças e enfermidades, significando mais a prevenção e a valorização do equilíbrio do corpo. E principalmente, da saúde como um sistema orgânico, incluindo a promoção de modelos mais sustentáveis, com formas de produção agroecológica e maior cuidado com a origem dos ingredientes, até a conservação do ambiente natural e de nosso próprio modo de vida.
Aqui em São Paulo, quem quiser se envolver diretamente com a proposta ou simplesmente trazer estes alimentos para seu prato, pode visitar o Box Mata Atlântica no mercado de Pinheiros, uma iniciativa do Instituto Auá em parceria com o Instituto ATA (saiba mais no nosso artigo). Você também pode saber mais as espécies frutíferas da Mata Atlântica no próprio site so Instituto Auá.
Por Heloisa Bio, Instituto AUÁ