Comida

Festa Junina Livre de Transgênico

Participe dessa iniciativa do slow food!
Letícia Genesini
15 de junho de 2016

Milho é um dos alimentos mais consumidos hoje. Mesmo se você não coma uma espiga de milho na sua vida, se você alimentos ultra-processados (e algumas carnes entram nisso), tenha certeza: a base de sua alimentação é milho. O que seria bom, se não fosse milho transgênico e de baixa qualidade.

Com a justificativa de que essas sementes gerarão plantas mais resistentes a pragas (como, se hoje somos o país que mais usa agrotóxicos no mundo?) e permitirão uma colheita mais abundante, hoje quase 90% do milho cultivado no Brasil é transgênico. Este excedente todo que é produzido é muito mais do que uma população poderia ter interesse em comprar e comer se estivesse em forma de espiga. Então pra onde vai tudo isso? Ah, a gente acha novas formas de uso, porque não há nada hoje que represente mais a industria alimentícia do que o milho transgênico.

Quase todo milho produzido em larga escala vira ração animal (principalmente de ruminantes, aqueles bichos feitos para comer grama, não grão, sabe?) e componentes industriais ultraprocessados. Apenas uma pequena parte vai para nossa boca, mas não sem antes ser transformada em subprodutos e aditivos alimentícios, muitos deles desenvolvidos apenas para lidar com excedente de milho, como a glicose de milho. Mas só essa “pequena parte” já foi o suficiente para permitir uma enorme criação de novas “comidas” que entraram no nosso dia a dia, como se não houvesse amanhã — porque a gente realmente precisava de mais uma forma de açúcar, né? O nuggets do fast food? Mais milho do que frango. A batata frita deles? Também. O refrigerante então? Nem se fala! Mas você não vai em fast food? Não tem problema, não. É só dar uma voltinha no supermercado, longe dos hortifrutis, que a gente consegue achar milho por toda parte. Se sua comida vem numa caixinha ou saquinho (ainda mais se estiver escrito “light”, “diet”, “menos calorias”, “0% gordura”) pode apostar: tem milho transgênico.

Sim, nós nunca, desde que os povos indígenas mexicanos domesticaram o milho 10mil anos atrás, consumimos tanto milho. Ao mesmo tempo, nunca esta planta esteve tão ameaçada. Como pode esse contrassenso?

Pra começar, nem todo milho é amarelo. Mesmo hoje, é só viajar pela América Latina para achar espigas vermelhas, roxas, pratas… A biodiversidade natural do milho é impressionante. Isso porque ele é uma planta resistente, autopolinizadora, de fácil adaptação climática, com uma biodiversidade crescente e que por meio de trocas comerciais e políticas, se espalhou pelo mundo inteiro. Essa “mesma característica que garantiu a grande diversidade de milho no passado, coloca em risco as variedades tradicionais de milho, conhecidas como milhos crioulos”, conta o Slow Food Brasil. “A planta do milho se autopoliniza e as variedades transgênicas, presentes em quase todas as partes do país, podem cruzar livremente e contaminar os cultivares crioulos”. Ou seja, os agricultores que ainda tentam plantar milhos crioulos, não conseguem fazê-lo se nas imediações houverem plantações de sementes transgênicas. Assim, estas espécies e seu manejo estão desaparecendo, o que causa um impacto na nossa saúde individual, assim como a do solo, a biodiversidade do ecossistema, e claro, social.

“Cada vez que um agricultor utiliza sementes transgênicas deve pagar taxas para quem as criou, mesmo se tiver multiplicado as sementes na própria propriedade. A diminuição do uso de herbicidas prometida pelas fabricantes de transgênicos é uma mentira e hoje o Brasil é o país que mais usa agrotóxicos em todo o mundo. Com a desculpa de combater a fome, estas empresas estão desmatando, empobrecendo os solos e poluindo as águas. A lei que obriga as embalagens usarem o Selo de Identificação “T” dentro de um triângulo amarelo nos produtos com transgênicos não é respeitada e o consumidor perde o seu direito de informação e de escolha.”, conta o Slow Food Brasil.

Por tudo isso e muito mais, o Grupo de Trabalho (GT) Sementes Livres, do Slow Food Brasil, criou a Festa Junina Livre de Transgênicos. Promovida pelo projeto Viva Bairro!, Praças dos Povos e seus parceiros, em São Paulo, a festa conta com organização da Horta das Flores e Subprefeitura da Mooca. Lá não tem nenhum prato típico de milho, mas vão ter os deliciosos pratos do Convívio Saudável Mente: dadinhos de tapioca com geleia de pimenta e mandioca frita (no óleo de dendê);  bijajica (espécie de cuscuz de mandioca e amendoim); amendoim torrado (doce e salgado); cuscuz de tapioca com coco e, para acompanhar, vinho quente. O Convívio Como Como, da Como Como Escola de Ecogastronomia, participará com os clássicos pinhão, cuscus paulista de arroz, bolo de amendoim, quentão sem álcool e chocolate quente. Para completar, haverá também curau de abóbora, sucesso da edição passada. Todos os pratos custaram de R$ 5 a R$ 20.

Além das barracas de comidas, bebidas e doces, o arraial terá, entre as atrações, atividades infantis como pintura, pescaria e corrida de sacos; oficinas de decoração e crochê; shows de forró e, para finalizar, uma típica quadrilha. E quem quiser saber mais sobre o assunto do milho, lá vai ter um bate-papo sobre sementes crioulas e variedade de milho, além de uma “troca de sementes” acontecendo ao longo do dia (vai que você descola uma semente crioula)!

 

curau de abóbora

FESTA JUNINA LIVRE DE TRANSGÊNICO
25 de junho, sábado
Das 9h às 18h
Horta das Flores, Av. Alcântra Machado, 2200, Mooca

Programação
8h00 Montagem das barracas
9h00 Abertura da festa
9h30 Atividades infantis: pintura facial, pescaria, derrubar as latas, acertar o palhaço, corrida de sacos, argolas no pino, tiro ao alvo (com estilingue) etc (continuam ao longo de todo dia) e correio “elegante”
10h00 Oficina de estandartes para decoração
11h00 Palestra sobre sementes crioulas e variedade de milho e Troca de sementes (segue durante a festa)
12h00 Oficina de crochê – a confirmar
13h00 Oficina de pífanos
14h00 Repente com Hip Hop – a confirmar
15h00 Show do Bando de Seu Pereira (FORRÓ)
16h00 Show Terno Quente (COCO RURAL, com Mestre Nico, Eder “O” Rocha e Velho Maza)
17h00 Quadrilha
18h00 Cerimônia de encerramento