Quando começamos a pesquisar e compreender como o alimento chega à nossa mesa ganhamos a percepção de que ser saudável como gostaríamos — para nós, ambiente e sociedade —, é mais difícil do que deveria ser. Não há selos e garantias ainda capazes de assegurar de fato um alimento bom, limpo e justo, e as informações de fato relevantes parecem estar tanto distantes quanto a outra  ponta dessa cadeia produtiva. Por isso mesmo, não há desfrute maior do que conhecer restaurantes como o Entre Vilas, um oásis não só pela localização paradisíaca, mas pela filosofia rara que traz.

“Bom, limpo e justo” não foram palavras selecionadas ao acaso para cobrir este conceito de saudável. Localizado na parte rural de São Bento do Sapucaí, o Entre Vilas faz parte do convívio Slow Food Serra da Mantiqueira, e vive à altura da missão da organização que é de trazer um alimento de qualidade, saboroso e saudável  (bom), com uma produção que não prejudica o meio ambiente (limpo), e com condições de remuneração justa para os produtores (justo). Ao sentar-se à mesa e degustar o prato no Entre Vilas temos a experiência de encurtar a cadeia produtiva é encurtada ao máximo, uma vez que muito antes de abrigar um restaurante, a propriedade já era uma fazenda que cultiva, produz, e cria (entre outras) coisas vinho, azeite, frutas, vegetais e animais. E aquilo que o Entre Vilas não produz é complementado por seus parceiros da região.

Em um local assim, os pratos não vem apenas de uma descrição apetitosa, mas com uma história e cultura local. O porco do meu prato foi criado no local, e servido junto a um molho barbecue de framboesa produzido artesanalmente na cidade vizinha de Gonçalvez; o peixe foi pescado nos rios da Serra; e as frutas vermelhas da deliciosa Pavlova que nos serviram na sobremesa também era do cultivo local. Assim, a informação que quase sempre é obscura, torna-se óbvia: De onde vem minha comida? Da terra. E se eu quiser saber em que condições foram cultivados esses alimentos, como o peixe foi pescado, e o que o porco comeu durante sua vida, bastava perguntar aos simpáticos atendentes ou mesmo ao chef, Rodrigo Veraldi, que é ele mesmo o agricultor da fazenda e mora no local.

O restaurante funciona com um generoso Menu Confiança (R$110), que traz antipasto, entrada, primo piatto, piatto pausa, secondo piatto, sobremesa e é acompanhado de água saborizada. e para acompanhar a vista do vinhedo, nós também pedimos o vinho da casa (R$110). A comida de Rodrigo é uma excelente representação do local, e claro dele mesmo. De família italiana, mas com grandes (e literais) raízes brasileiras ele combina sabores rústicos e tradicionais, com a sutil delicadeza da gastronomia italiana que sabe ressaltar as nuances de cada ingrediente. Mas se você perguntar para ele, logo dirá “Cozinhar não é difícil. Comida boa é feita com ingrediente bom”. Difícil argumentar com essa lógica.

O Entre Vilas funciona apenas aos fins de semana e feriados prolongados e somente para almoço das 13h às 17h, e é preciso fazer reserva, porque ele, merecidamente, está sempre lotado. Reserve toda sua tarde, porque a comida é servida em compassos, reforçando também o sentido literal do slow food, permitir que a refeição seja um evento a ser desfrutado e compartilhado. E após o almoço, visite a adega e os viveiros da fazendo, certamente você levará uma garrafa de vinho ou quem sabe ainda uma muda de planta.

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