Letícia Genesini
21 de abril de 2016

Você já imaginou uma prova de tempo em que você deve estar preparado para tudo? Onde além dos inúmeros desafios que o terreno pode te pedir, exigindo habilidades desde corrida e trekking, até mountain bike, canoagem, técnicas verticais, será preciso cuidar da própria orientação, lançando mão de bússolas e cartas topográficas para se localizar em um trajeto desconhecido divulgado somente momentos antes da prova? Essa é a corrida de aventuras, uma modalidade ainda nova no Brasil, mas com tradição em muitos países. Para entender mais conversamos com Caco Fonseca, um dos pioneiros no esporte e fundador da Selva Aventura.

Formado em educação física e pós graduado em fisiologia do exercicio o esporte sempre fez parte da vida de Caco, mas foi quando ele entrou no exército, em meados dos anos 90, que seu condicionamento físico recebeu o treinamento que o levou à excelência. Sempre se destacando nas exigências físicas — já que tiro não era sem forte, como ele recorda —, no segundo ano Caco virou atleta de orientação do quartel, modalidade que exige além da velocidade e resistência física, que o participante seja responsável por sua própria localização e evolução no percurso. Além dos benefícios físicos para a formação militar, o esporte servia como treinamento para resgates em matas e selvas, como por exemplo o de resgate de aviões caídos na Serra da Mantiqueira.

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Essa formação que para nós parece surpreendente reflete na verdade a base da maioria dos corredores de aventura do Brasil. Aqui 70% dos competidores têm formação militar, mas a tendência é que o número de civis cresça, uma vez que a modalidade em ganhando um status quase olímpico com padrão internacional para a execução das provas que já se tornaram tradicionais da Europa.

Caco acompanhou o crescimento do esporte e no ano 2000, já fora do exército e atuando como preparador físico, ele decidiu montar uma equipe para seguir competindo na modalidade. A primeira prova era um 200K que envolviam pedal e canoagem, e na hora de escolher o nome da equipe não houve dúvidas: “selva” — uma palavra que remetia não apenas ao seu treinamento, mas que é, para todos os militares que conhecem esse ambiente, um símbolo de força e união. E esta foi outra vantagem que Caco trouxe de seu treinamento militar: o trabalho de liderança e equipe, uma vez que as provas tradicionais além de muito longas eram realizadas em equipe, exigindo não apenas uma resistência física e mental da cada integrante, mas um trabalho conjunto de apoio e perseverança.

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Como se é de imaginar a preparação para uma prova deste carater não é simples nem barata, assim para sustentar a empreitada, Caco decidiu transforma o prazer em estratégia de negócio e fundou a assessoria de corrida de aventuras Selva Aventura. Além de treinar novos atletas da modalidade, a assessoria é uma das responsáveis por tornar o esporte mais acessível, promovendo provas menores. Além disso, a Selva Aventura é uma grande parceira de empresas, para quem Caco passa seus conhecimentos e aprendizados sobre lliderança e trabalho em equipe.

Com a Selva veio também o patrocício e a oportunidade em enfrentar provas internacionais como a clássica Patagônia Expedition, considerada um dos maiores desafios do esporte. Para se ter uma noção, apenas 13 equipes no mundo foram capazes de terminá-la, sendo a Selva a única sul-americana a ter este título. A grande dificuldade não é apenas física, mas de auto-controle. As provas de corrida de aventura sempre trabalham com o imprevisto. As surpresas do terreno e como ultrapassá-las compõe o principal desafio da prova — o próprio percurso só é revelado com 24hrs de antecedência —, mas nada se compara com a reação da equipe em situações extremas e de risco real. Em 2011 Caco e sua equipe da Selva se lançaram esse desafio para se verem depois com parte da equipe em um barco virado e sendo levada pela correnteza de um rio quase congelado. Em 2012, ano que completaram o percurso, eles tiveram de lidar com falta de comida e pulmões congelados no trecho final que consistia em nada menos do que 140km de trekking por entre 7 montanhas. Não é qualquer um que tem fôlego para tanto, menos ainda são aqueles que conseguem manter a calma e sob intenso stress físico e psicológico e ir resolvendo os problemas que se expõem, mas é isso que o esporte exige.

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Como devem imaginar, o Caco tem muita história para contar, por isso mesmo que ele está escrevendo um livro relatando todas essas aventuras. O livro deve sair até o final do ano, mas para quem se encantou com o desafio, pode ser tornar um dos alunos da Selva que hoje é um dos braços da Run & Fun. Além da corrida de aventuras hoje eles dão treinamento dos esportes bases de toda essa aventura: corrida de montanha, canoagem, mountain bike, trekking e navegação. Para conhecer mais, dá uma olhadinha do site da Selva.