Cidade

462 vezes São Paulo

Nossa cidade amada
Letícia Genesini
25 de janeiro de 2016

Nós amamos São Paulo. Na correria do dia-a-dia pode parecer que não. Pode parecer que os paulistanos estão descontentes, estressados com o trânsito, indignados com a violência e, no fim do dia, simplesmente exaustos com tudo isso. Estamos mesmo. Mas isso não anula em nada o fato que em São Paulo há muito o que amar — e mesmo que não houvesse, desconfio que a amaríamos mesmo assim.

Eu nasci em São Paulo — a única na minha família — e morei quase toda minha vida aqui. Sempre fui a paulistana típica, incapaz de entender como alguém poderia viver em um ritmo que não fosse frenético, como alguém poderia se entreter em uma cidade que não fosse um hub cultural, onde alguém poderia querer trabalhar se não neste centro onde tudo acontece. Para mim existia São Paulo, e as outras cidades.

Quando fui morar por 3 anos fora de São Paulo (e do país), imediatamente senti falta de tudo aquilo que sabia que sentiria, especialmente de viver em um hub cultural. Não importava, se estava em uma capital européia, neste quesito São Paulo é privilegiada como poucas. No entanto, criei novos e melhores hábitos. Não precisava mais de carro, podia caminhar para quase todos meus compromissos; comecei a correr e praticar exercícios assiduamente, e a conhecer melhor de onde vinha a comida que eu comprava.

Assim que voltei pra São Paulo foi um choque. As coisas que eu gostava ainda estavam lá, mas cidade que eu amava me deixava presa no trânsito me fazendo perder o treino de corrida; as provas de corrida custavam um absurdo; e achar alimentos orgânicos não estava tão fácil assim. Nosso romance de anos se tornou amargo.

Aos poucos as coisas foram melhorando. Eu fui descobrindo novos cantos da cidade que me atraiam, e fui aprendendo a explorá-la. Demoraram alguns anos, e não sei se neste tempo outras pessoas também adquiriam estes novos hábitos ou se eu só soube enxergá-las melhor, mas o fato é que a cidade para mim se repovoou.

O problema não era São Paulo, era eu. Eu tinha mudado meus hábitos, mas ainda carregava o mesmo mapa mental da cidade que tinha antes de partir. Eu conhecia muito bem cinemas e galerias, mas mal sabia onde poderia comer, treinar, fazer comprar. E hoje para onde olho, eu me vejo. É por isso que amamos São Paulo, ela é a verdadeira megalópole: múltipla e interminável. Aqui cabem todas as tribos, porque ela se re-assina e re-significa de acordo com o olhar que você dá a ela.

Parabéns, minha São Paulo.

 



leia mais sobre são paulo saudável