Exercício

Ironman: Limites do Impossível

Acha que só louco faz ironman? Que bom que a loucura existe!
Letícia Genesini
31 de maio de 2016

Neste último domingo,  29 de Maio, apaixonados por triátlon assistiram atletas profissionais e amadores cruzar a linha de chegada do Ironman Brasil. 3,8 km de natação, 180 km de pedalada, e uma maratona (42,2 km) – este é o esforço exigido para clamar para si o admirado título de Ironman, demandando uma boa dose de coragem e uma impensável dose de loucura.

Para a elite a prova representa a chance de um pódio que garante o título, a vaga para a final do Ironman em Kona, e ainda milhares de dólares. Mas, e para os 2000 participantes amadores que estão lá para competir com a própria sombra? Que não somente sabem que não possuem chance alguma de vitória, mas que pagaram para se expor a este sofrimento às sete da manhã de um domingo? Que ímpeto impossível é capaz de reunir 2000 pessoas neste ato de loucura? Nem ao menos se pode dizer que se trata de uma loucura espontânea e impulsiva, já que por meses e meses esses atletas acordaram em horários indecentes para conseguirem encaixar com fidelidade seus longos treinos antes de seguir com as obrigações usuais. Pelo contrário, trata-se de uma loucura meticulosamente planejada, uma batalha cuidadosamente traçada contra moinhos de vento.

E para quê? Testar os limites do corpo? Também. Mas não se enganem, a exaustão de uma prova de 226 km não desafia as pernas e os músculos, mas sim o peito. Se são 226 km que o corpo deve percorrer diligentemente resistindo à fadiga, são também 226 km entre linha de partida e a linha de chegada; 226 km de oportunidades em que a mente pensa – plena de razão – a cada passo, a cada curva, a cada marca de quilometragem, em desistir, enquanto o coração – sem razão alguma –  resiste. Simplesmente resiste, sem porque ou porém, pois este é um reino em que a razão não ecoa: é uma prova de paixão.

E é este o resto, a soma, a prova dos 9, que é compartilhada por todos, seja ele o atleta de elite ou o estreante, – a realização de enfrentar o imponente absurdo e sair vitorioso, armado apenas de uma impossível loucura. É o exercício da certeza que declara: exatamente porque o absurdo da vida não concede uma razão, suas sem-razões também não bastam para frear.

 

Imagem: @trisportmag