Letícia Genesini
17 de outubro de 2016

Pela primeira vez na América Latina, Nicola Perullo desembarca em São Paulo para a série de eventos O Gosto Como Experiência, idealizado por Nathalia Leter, e com realização São Paulo Saudável e SESC. Entenda o trabalho deste filósofo do alimento e participe da programação.

O paladar. Este sentido tão indiscutivelmente presente, mas ao mesmo tempo tão marginalizado. Há um cânon infindável falando sobre as artes que nos encantam os olhos, que falam aos ouvidos, mas ao paladar? Quase 2 séculos se passaram desde que o filósofo francês Brillat-Savarin escreveu a Fisiologia do Gosto, debruçando-se sobre a comida como um objeto digno de reflexão, mas desde então a pauta continuou à margem. Não se engane. Muito se fala sobre gastronomia — incessantemente —, e a discussão sobre comida parece cada vez mais ganhar a dimensão que merece, saindo dos nossos pratos pra reflexões não apenas fisiológicas e bioquímicas, mas sociais, econômicas, culturais e além. Ainda sim, apesar de tudo isso, há um veio latente que requer maior atenção: o gosto.

Comer, para o ser humano, simbólico por natureza, é uma experiência sensorial, uma arquitetura dos sentidos: uma experiência estética. E ao dizer estética, buscamos o significado completo da palavra, do grego aesthesis, que não se detém sobre a percepção visual, mas fala das relações percepção sensorial e simbólica estabelecida entres nós e um objeto — a membrana carregada de sentido que liga o Eu ao Objeto.

E é deste ponto de partida que se constrói a pesquisa e obra de Nicola Perullo, italiano nascido em Livorno e hoje Filósofo do Alimento e professor de Estética do Gosto da Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo – UNISG, Itália, fundada em 2004 pela Associação Slow Food Internacional. Em entrevista à Época ele comenta: “Embora a visão seja um dos sentidos mais poderosos de nossa percepção, a investigação estética se concentra em sensações e sentidos de todo o nosso corpo. É isso o que quero dizer com estética do paladar, porque o paladar é uma percepção multissensorial”.

Autor de diversos livros, aqui no Brasil podemos achar pela SESI-Editora, uma de suas principais obras, “O Gosto Como Experiência”, porta de entrada para quem quer saber mais deste pensamento. A sinopse já encanta: “Partindo do pressuposto que comer não é uma ação banal, apresenta o paladar como uma experiência complexa, apesar de parecer simples, algo a ser observado e analisado atentamente, e instiga os leitores a refletir sobre sua relação com o alimento e o que está por trás das nossas escolhas. Repleto de argumentações e exemplos, o autor faz um paralelo sobre a importância de sabermos olhar nossos comportamentos gustativos para explorarmos melhor as relações humanas. O paladar não está apenas na boca, ao sentir o gosto utilizamos outras funções, conexões e referências que criam uma amplitude ao ato gustativo muito maior e, curiosamente, exploradas por Perullo neste livro”.

O encontro de intelecto e sensorialidade não se encontram apenas nos livros e palestras de Nicola, que leva seu trabalho também para o campo da experiência através das Epistenologias encontros-simpósio centrados na experiência com vinhos. O objetivo desses encontros não é a visão qualitativa dos vinhos, como em degustações comuns, mas “criar condições e caminhos para expressar emoções, idéias, pensamentos e desejos. Em vez de nos concentrarmos no conhecimento do vinho, propomos um conhecimento com o vinho. Pois o vinho é um encontro a ser realizado…”.

Nicola não trabalha com qualquer vinho, mas sim vinhos vivos (ou naturebas, naturais…): “produtos naturais, que não sofreram intervenções químicas artificiais e que são, para nós, verdadeiras entidades… Seres como nós, em processo, dotados de um caráter próprio, uma personalidade com a qual travaremos uma aproximação cuidadosa”. Mas mais sobre vinhos vivos em um segundo momento.

O livro “O Gosto Como Experiência” é um bom passo para que quer conhecer o trabalho da Estética do Gosto, mas não é apenas na tradução que podemos ter acesso a este pensamento — sua pesquisa já se extende aqui mesmo em São Paulo. A conhecemos inclusive pela paulistana Nathalia Leter, sommelier de chás (ou maga dos chás, como preferimos), para quem o chá não é apenas a qualidade de sua infusão, mas como ela desperta os sentidos, a memória, os símbolos — ou seja, o paladar.

Por isso arquitetamos em Novembro este encontro único, ligando polos — a filosofia e as artes performáticas; o vinho e o chá; Itália e Brasil —, em um único prato. Uma série de eventos gastronômicos inéditos que pensa o alimento como um todo: seu sabor, sua origem, sua apresentação, seu deleite, e seu cenário. Experimente.

O GOSTO COMO EXPERIÊNCIA 2016

Programação Completa
01/11 Designers do Gosto: Wine&Tea com Nicola Perullo no Lobrobô
03/11 Sala Nômade de Chá no Cha Yê
04/11 Palestra O Gosto Como Experiência no SESC
05/11 A Rota do Chá: Estação Liberdade com Nathalia Leter
07/11 Epistenologia Experience na Enoteca Saint Vinsaint
08/11 Lançamento da carta de chás Gelato Boutique by A Loja do Chá.

Para saber sobre a Programação de 2017, veja no link.