Comida

Biscoito, bolacha, miojo…Comida de Criança?

O documentário Muito Além do Peso mostra um cenário alarmante da obesidade infantil no Brasil
Letícia Genesini
03 de fevereiro de 2016

Não há como assistir o documentário “Muito Além do Peso”, que explora as complexas questões por trás da obesidade infantil e se perguntar, como este filme não casou um estardalhaço quando lançado? Ele é uma excelente produção brasileira de 2012, que conta com autoridades renomadas da área, está disponível na Internet e para exibições sem fins lucrativos, e mesmo assim muitas gente não o viu. Como?

A verdade é que quem começa a se importar com nutrição parece que logo passa a fazer parte de um mundo a parte. As pessoas perguntam indignadas quando você diz que não come açúcar ou industrializados “mas você come o quê?”. Responder “comida, oras!” pareceria uma piada se não fosse a mais pura verdade. Mas essa é a realidade, hoje quem come comida é exceção e visto como tal. A consequência pros adultos todo mundo sabe há décadas: síndromes metabólicas, doenças cardíacas, maior propensão a cânceres, e a lista continua… Mas e para as crianças?

Bem, toda “besteirinha” que tem por aí para comer é comida de criança, não? Afinal, eles podem, né? Eles ainda não precisam se preocupar com colesterol, hipertensão, diabetes… Só que não. O documentário mostra crianças de até 4 anos já tendo de se preocupar com sinais e doenças que antes eram apenas comuns em pessoas que passaram décadas comendo “besteirinhas”.

Enquanto o senso comum acha que doces e salgadinhos são comida de criança, que seu organismo passa ileso a excessos, o corpo tenta mostrar que esta na verdade é a idade que deveríamos mais nos preocupar com a nutrição. A medicina hoje sabe lidar e dar uma melhora na qualidade de vida para pessoas que desenvolvem diabetes tipo 2 aos 60 anos, mas e pessoas que desenvolvem aos 12 anos? Como um corpo se comporta depois de décadas e décadas de resistência insulínica?

Um cenário não apenas triste, mas alarmante. Segundo a campanha da Amil “Obesidade Infantil Não”, uma a cada três crianças no Brasil são obesas. Não é exagero tratar esses números como uma epidemia, acontece que estamos tendo uma epidemia de uma doença (ou quadro de doenças) completamente prevenível por hábitos saudáveis.

Jamie Oliver está revoltado, você não?

Mas mais do que a vontade de corrigir os hábitos, o que é preciso é informação. Documentários como o “Muito Além do Peso” são um começo, e para muitos um banho de água fria (e vamos sim divulgar mais por aqui). Campanhas como a da Amil também.

Mas, o mais difícil, é que é preciso ir muito além do óbvio.

E é preciso entender que uma informação correta talvez seja o contrasenso. Talvez seja algo que vai na contramão de todas as mensagens que você vê ao longo do seu dia, das prateleiras do supermercado, aos programas de TV; a de que açúcar é comida de criança.

Talvez seja entender que a noção de que habitual e normal não são sinônimos. Se hoje é habitual que o brasileiro médio consome 100g de açúcar por dia (fonte OMS), certamente isso não é normal para seu corpo.

E que talvez o radical seja o usual. Porque se hoje parece radical não comer alimentos industrializados, seu constante consumo que é um grande risco.

Mais do que mudar hábitos, ressignifique suas ações.