Comida

Sala Nômade de Chá: Nathalia Leter

Festival O Gosto Como Experiência 2016
Letícia Genesini
20 de outubro de 2016

Nós ouvimos ‘chá’, e já vamos atrás. Foi assim que conhecemos a Nathalia Leter, sommelier de chás, mas já intitulada a maga dos chás: passeando pela internet vi no Bistrô Ó-Chá um evento com, claro, chás, e lá fui. Esperava um papo sobre a qualidade dos chás, seus tipos, a planta, como muitos que fui e sempre me agradaram. Mas o que me recebeu foi uma surpresa um tanto quanto melhor.


O chá estava presente, e continuava sendo o protagonista da noite, mas igualmente presentes estavamos nós — o chá era uma chave para despertar os sentidos. As sensações eram acompanhadas de um discurso filosófico firme, dialogando muito com o trabalho do filósofo do alimento, Nicola Perullo, mas também se delineando por todo pensamento estético. Falava-se aí da reflexão da subjetividade através dos sentidos despertados pelo gosto. Se isso parece muito abstrato basta lembrar que os 7 tomos de “Em Busca do Tempo Perdido” de Marcel Proust inicia-se com a mordida em uma madeleine. A nossa percepção de ser e estar no mundo é entremeada pelos sentidos, e o paladar é um dos mais fortes. Como Nathalia fala, seu trabalho são “educações sensoriais para o cultivo da subjetividade”.

“A experiência com o paladar, nos meus trabalhos, é abordada como via de acesso a uma ‘sensação de si’, um meio de refinamento da subjetividade e de expansão da percepção”, conta.

Em seus encontros Nathalia arquiteta e soma todas suas formações: pesquisadora vocal formada pela cantora Andrea Drigo (O Caminho do Canto) e Sommelière de Chá certificada pela Escuela Argentina de Té, contando ainda com diversas experiências em técnicas somáticas e linguagens corporais. “Sou uma compositora de cenários para o ato gustativo, artesã de encontros”, detalha.

Dentre seus variados trabalhos se destaca o Sala Nômade de Chá, que propõe um território efêmero e itinerante de experiências sensoriais. “A cada sessão, degustamos ao menos três variedades de chás especiais vivenciando uma pausa para escutar o corpo e captar o acontecimento do encontro que se tece das presenças. Os encontros sempre partem de um tema-disparador a partir do qual embarcamos na intimidade do contato com os aromas e sabores que tocam nossos sentidos, nos valendo desse estado alterado de percepção para construir diálogos mais potentes e uma qualidade de escuta mais sensível“, explica.

Ela oferece desde atendimentos individuais com chás e Heiki, a sessões de degustação para pequenos grupos, rituais e eventos gastronômicos, cursos de formação, workshops e jornadas filosófico-sensoriais com degustações.

“Minhas propostas passam pela magia conectiva e imersiva do ritual ao redor da mesa de chá, na potência do encontro e da partilha. Sabor que se converte em SABER quando aprendemos a sorver o aroma de cada momento e a transformar nossas experiências em tecido corporal, em aprendizado e comportamento, ou seja: naquilo que somos”, Nathalia Leter.

 

 



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