Comida

A Rota do Cambuci

Refloreste a Mata Atlântica, começando pelo seu prato!
Letícia Genesini
10 de maio de 2016

São Paulo é a cidade das contradições. O metrô Consolação fica na Avenida Paulista, e o Paulista na Rua da Consolação; o rio que está no Hino Nacional não se vê; e Cambuci todo mundo sabe que é bairro com nome de fruta, mas a fruta mesmo quase ninguém vê. Algumas contradições são simplesmente charmes paulistanos, enquanto outras fazem a gente pensar até quando deveríamos aguentar (e se devia) a ironia. O bairro do Cambuci, por exemplo, tinha seu nome em homenagem à fruta que dava em suas árvores. Acontece que o fruto típico da Mata Atlântica não desapareceu só do bairro, ele faz parte da lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção da IUCN (International Union for Conservation of Nature). Se a simbologia ainda não criou impacto, vamos aos fatos: não se trata apenas do desaparecimento de um fruto e sim um exemplo crasso da redução da biodiversidade da Mata Atlântica, um bioma entre os cinco mais ricos e mais ameaçados do planeta, que abrigando 60% da população do país está reduzido hoje a 12% de sua formação original. Por onde começar a corrigir isso? Há muitos caminhos, o escolhido pelo Instituto Auá foi através do prato.

Nós sempre falamos que quando comemos (ou seja, sempre!) nos colocamos no final de uma cadeia produtiva da qual fazemos parte. E se isso nos implica a responsabilidade sobre os impactos negativos desta cadeia, também nos empodera com a possibilidade de ação e mudança. É isto que fez o Instituto Auá em parceria com diversos municípios do Sudeste brasileiro e construindo a Rota Gastronômica do Cambuci, que tem como missão “promover as potencialidades do fruto por meio de um roteiro gastronômico, turístico e cultural”.

 

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A principal ação é o Festival que viaja pelo cinturão verde paulista levando atrações artísticas, produtores e inúmeros produtos à base do fruto que resgatam as tradições culturais e culinárias do Sudeste, que por sua vez também cria um Roteiro Turístico da região. E se aqui na capital você está vendo que de repente está aparecendo Cambuci no cardápio dos restaurantes da salada à sobremesa é porque o Instituto Auá está ligando bares, restaurantes e chefs aos produtores através do Empório Mata Atlântica, que os adquire dos agricultores familiares organizados em um Arranjo Produtivo Sustentável. “Quando chega à mesa dos estabelecimentos, o consumo do fruto reverte em renda para os produtores, apoia a recuperação da Mata Atlântica em áreas antes cobertas por monoculturas e criação de gado, e apoia a Rota do Cambuci” conta o Instituto.

Hoje a Rota tem uma rede de agricultores, gestores públicos, ONGs, pesquisadores, chefs, estabelecimentos gastronômicos e comunidades em 15 municípios da Serra do Mar no Vale do Ribeira e do Vale do Paraíba. Se você quer apoiar do jeito mais delicioso que tem a lista dos principais parceiros você encontra aqui, mas a nossa dica é ir na Le Botteghe di Leonardo, um parceiro da Rota, e degustar o gelato de cambuci. Você também consegue comprar o fruto no Instituto Chão (lugar incrível, lê só). E para quem quer viver de perto o Festival da Rota Gastronômica do Cambuci, a próxima parada é neste fim de semana (14 e 15 de maio) em Mogi das Cruzes, e não deixe de conferir a programação completa e as próximas datas do festival.

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