Exercício

A Loucura do Ironman

Ainda bem que loucos existem!
Letícia Genesini
07 de junho de 2016

Acha loucura nadar 2.4 milhas (3.86 km), pedalar 112 (180.25 km) e ainda por cima correr uma maratona tudo em seguida (26.2 milhas ou 42.2 km)? É isso que somam as 140.6 milhas do Ironman (ou IM 140.6 para os íntimos). Loucura, né? A Karina concorda, mas mesmo assim ela completou a prova. Veja essa história de loucos:

Agora que os ânimos já se acalmaram, o joelho desinchou, e a vida voltou a seguir em frente, vou tentar relatar tudo o que aconteceu na minha primeira prova de IM 140.6.

Nunca tive o sonho de realizar essa prova. Como professora de educação física, sempre achei nada saudável uma prova tão extensa e tão desgastante como essa. Acompanhei muitos IMs no Brasil e fora, acho linda e emocionante, mas achava demais para mim.

Fiz muitos amigos nesse esporte e em um barzinho da Croácia decidi com meus amigos que íamos fazer um 70.3 (meio Ironman) — uma distância que eu achava justa, porém ainda impossível na minha cabeça. Tenho cirurgia no joelho desde 18 anos, e meu quadril estava no auge das dores quando resolvemos que nossa estreia seria na Noruega! Sim! 70.3 na Noruega! Detalhe, nunca tinha corrido mais de 8km, não tinha bike e nem conseguia nadar 100m direto.

Mas não só fiz, como depois desse vieram mais 3 meios Ironman até chegar no completo. Decidi no último minuto antes de abrir a inscrição, que faria Florianópolis 2016. Inscrição feita! Tremedeira! 3 dias sem dormir… Até q a ideia foi entrando na minha cabeça…

Um tombo de bike em dezembro quase me tira dos treinos, se não fosse a sorte de ter quebrado o escafoide no único ponto onde não se precisa imobilizar (santo médico especialista em mão)! Se não bastasse a mão quebrada, tive alguns problemas pessoais que me acompanharam desde começo do período de treinos específico para a prova — acredito que tenha sido a parte mais difícil dos treinos.

Foco no objetivo, e treinos feitos! Ah, os 150km de bike! Devido às lesões no joelho, minha super coach não abusou dos longos na corrida, o maior foi 25km, feito sem dores nenhuma. Ao fim, o corpo respondia bem em todos os mais loucos dos treinos.

Ida a Floripa, sorte que eu e a parceira decidimos ir de carro. Parecia mais que estávamos de mudança pra lá! A previsão do tempo era péssima, carreguei comigo toda a parafernália que usei na prova da Noruega: protetor de sapatilha de lona, touca e meia de neoprene, 2 capacetes, 2 pares de rodas… Ah, as rodas que 2 meses antes da prova decididi que não queria mais usar as que estava testando e iria com as minhas originais, mas não consegui fazer o teste antes!

Não fiquei nervosa para essa prova, talvez um pouco ansiosa. Na noite anterior meus amigos bem tensos e eu não entendendo a minha calma. Que hora deveria ficar tensa? Não fiquei! Sol na quinta, sol na sexta e… Sol no sábado, é claro que domingo choveu! Primeiro ano de largada em ondas… Amei a ideia! Não ia apanhar de ninguém na natação! Apanhei, mas foi de mulher, não doeu tanto. A chuva e a neblina não deixavam eu ver a boia… Tudo bem, minha navegação não eh boa mesmo… Por muitas vezes segui o fluxo da galera, se elas estivessem erradas erraria junto também.

Saí da natação dentro do que esperava, mas fora do que planejei para a bike, a chuva apertou. Eu não pedalo na chuva. Fiquei com trauma de quando cai na poça de óleo. Os primeiros 20-30 km foram na maior chuva, até tirei o óculos, embaçou tudo… Se fosse naquele ritmo acho q ficaria 8h na bike (ok, foi a hora que fiquei tensa). A chuva parou, e aí foi bem legal, estava num dia bom. Vi meus amigos nos 90km e deu aquele animo que durou uns 10km… Ou melhor até a primeira ventania! A marca dos 150km passou e aí começa aqueles 30 km finais intermináveis.

Fiz uma amiga na prova. Ela estava no meu ritmo na bike. A coitada é de recife e estava tremendo de frio, me disse que a prova estava mais difícil do que a de fortaleza do ano passado. Achei loucura porque estive lá e achei a prova mais insana que já vi! Enfim, a bike acabou e a felicidade de sair pra correr era grande, que bom desmontar da bike!

Saí ótima pra correr até ver a primeira subida de Canasvieira… Até dei risada. Não a conhecia e só pensei ‘Caminhar ou correr vai dar na mesma, vamos caminhar’! A segunda subida? Idem! Voltei a correr bem e feliz até os 21km, vi a galera de novo! Fiquei feliz e mais 10km na conta, até que meu joelho operado há quase 18 anos resolveu doer, uma dor tão absurda que me faltava ar. Sim o ar era por conta do joelho e a perna era por conta dos 30km onde o urso costuma subir nas costas da galera. Comecei no anda e corre — esquece suplementação e hidratação nessas horas, só queria acabar aquele muito pouco que falava, mas lembrei que não poderia terminar sem provar a sopa do Ironman! Último posto eu peguei a sopa, tem gosto de caldo de qualquer coisa…

Faltando 3k corri direto. Meus amigos todos me esperando, meu afilhado, e muitos acompanhando pelo aplicativo — qualquer coisa eh motivo para te empurrar pra frente! Bora cruzar a linha de chegada…

13383576_10153601781294249_971145991_o

Tempo melhor do imaginei para a minha primeira prova! E depois, os mais experientes falaram que foi a prova mais difícil de Floripa nos últimos 16 anos! Só soube que estava difícil porque me falaram!

Assim que acabou a prova meu amigo perguntou “Ano que vem de novo”? Respondi nem morta!

Na segunda feira respondi: se alguém pagar a inscrição eu faço…

Na terça já estava vendo a data da inscrição de 2017.

Ah, o joelho? Hoje faz uma semana da prova, já estou zerada, mas descobri que foi o atrito da banda iliotibial com a cabeça do pino! Continuo achando tudo isso uma loucura… Ano que vem tem mais?

 

Karina Passanante Orlandin